Sísifo de Tiziano, 1549
"Há cerca de vinte anos, Gilles Ferry designou a formação como um dos grandes mitos do século XX, a par do computador e da conquista do espaço. Invadindo todos os domínios do social, a formação instituiu‑se como uma resposta às perturbações e às angústias individuais e dos grupos, desorientados por um mundo em rápida mudança e no contexto de uma situação percepcionada como uma “crise” social e económica. O optimismo em relação à formação não tem hoje razão de ser, num quadro em que o desemprego estrutural e o trabalho precário marcam
o regresso da vulnerabilidade de massa, característica, entre outras, do que o sociólogo Beck designou por “sociedade de risco”. Vivemos um tempo em que as políticas e as práticas de formação assumem, por um lado, um carácter instrumental em relação à civilização de mercado e, por outro lado, se inscrevem em políticas de ortopedia social, em que o assistencialismo se substitui à justiça social. Neste contexto, o trabalho de investigação tem como principal justificação para a sua pertinência social a possibilidade de produzir um acréscimo de lucidez sobre os discursos, as representações e as práticas que fazem da formação um dispositivo de distribuição de ilusões."
Rui Canário in Formação de Adultos: políticas e práticas - Nota de apresentação
Sísifo/revista de ciências da educação n.2 jan/abr 2007 issn 1646‑4990
1 comentário:
O outro é que tinha razão, não estamos mortos, estamos é mal enterrados...
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