"A Lua, a caprichosa, olhou pela janela enquanto dormias no berço e disse: Gosto desta criança.
E desceu as suas escadas de nuvens e entrou sem ruído pela janela e numa ternura de mãe colocou no teu rosto as suas cores. Daí as tuas pupilas serem verdes e a tua face pálida. Foi ao olhares para a tua visita que os teus olhos se dilataram e pelo seu abraço que ficaste para sempre com vontade de chorar.
Entretanto a Lua enchia todo o teu quarto com uma atmosfera fosforescente, como um veneno luminoso e toda essa luz viva pensava e dizia: Sofrerás esternamente a influência do meu beijo. Serás bela à minha maneira. Amarás aquilo que eu amo e aquilo porque sou amada: a água, as nuvens, o silêncio e a noite; o mar imenso e verde: a água informe e multiforme; o lugar onde não estejas; o amante que não conheças; as flores exóticas, os perfumes que fazem delirar; os gatos que se espreguiçam sobre os pianos e gemem como mulheres, com voz rouca e suave!
E serás amada pelos amantes, cortejada e rainha dos homens de olhos verdes, os quais abracei durante a noite; daqueles que amam o mar, o mar infindável, tumultuoso e verde, a água e o lugar onde não estão, a mulher que eles não conhecem, as flores sinistras que se parecem a turíbulos duma região desconhecida, os perfumes que perturbam a vontade, e os animais selvagens que são o símbolo da loucura.
E é por isso, maldita e adorada criança que eu estou agora deitado aos teus pés, procurando o reflexo da temerosa divindade, da fatídica madrinha de todos os lunáticos."
Do autor de cima, tal como ao lado: Poemas em Prosa - Tradução de João Linhares, Ed. Alma Azul
Sem comentários:
Enviar um comentário