[...] Se os homens desconfiam duma cultura e duma civilização que os vão encadeando sempre com igual dureza, e se procuram por vezes, a despeito das objurações das elites, discernir a possibilidade de novas vias ou o regresso simplista às práticas dos bons velhos tempos...
- Está a entrar aí num domínio que nos ultrapassa...
- Pelo contrário, falo de coisas extremamente simples, e, creio, bastante compreensíveis, para quem quer compreendê-las, para quem não teima numa atitude que tem certamente todas as vantagens, mas também os perigos do conformismo. Nós devemos –e vós, educadores, mais particularmente ainda – reencontrar a realidade das coisas, oculta, deformada sob a ilusão das palavras, das concepções e dos sistemas. Não são eles que conduzem o mundo. Não são as Escolas, nem mesmo as Faculdades ou as Academias que orientam e estimulam o progresso. Elas servem-no, mas tanto em mal como em bem: ou antes, seguem-no. Existiram maus génios que, favorecendo os baixos instintos dos homens, desencadearam toda uma orientação social e por vezes espiritual, que nem os sábios nem os pensadores puderam mais controlar. Mais valeria conhecer melhor em especial a influência dos grandes homens políticos que têm como que a intuição genial do lado pelo qual se deve tomar os homens para os fazer agir num determinado sentido. E a influência desses homens políticos vai aumentando. Eles souberam pôr ao seu serviço a ciência e a cultura.
Neste assunto, sei-o eu, vocês são mais vítimas do que responsáveis. Mas nada disso altera nesse destino diabólico de um pensamento generoso, de investigação desinteressada, duma razão lógica tão orgulhosa das suas conquistas e das esperanças entrevistas, de religiões que exaltam tudo quanto o indivíduo traz em si de benéfica humanidade, e que são desviadas dos seus objectivos, domesticadas, subjugadas pelas forças más tão bem camufladas que já se não distingue nem o bem nem o mal, e que nos espantamos plo vertiginoso caos em que soçobram as mais comovedoras veleidades.
Vou explicar-lhe isso à minha maneira, porque dificilmente me debato com as grandes palavras, e os pensamentos a que vós chamais abstratos não me são familiares... [...]
Célestin Freinet – A Educação pelo Trabalho 1943 Editorial Presença 2ªEd. Fevereiro de 1974 Pag.95/6
- Está a entrar aí num domínio que nos ultrapassa...
- Pelo contrário, falo de coisas extremamente simples, e, creio, bastante compreensíveis, para quem quer compreendê-las, para quem não teima numa atitude que tem certamente todas as vantagens, mas também os perigos do conformismo. Nós devemos –e vós, educadores, mais particularmente ainda – reencontrar a realidade das coisas, oculta, deformada sob a ilusão das palavras, das concepções e dos sistemas. Não são eles que conduzem o mundo. Não são as Escolas, nem mesmo as Faculdades ou as Academias que orientam e estimulam o progresso. Elas servem-no, mas tanto em mal como em bem: ou antes, seguem-no. Existiram maus génios que, favorecendo os baixos instintos dos homens, desencadearam toda uma orientação social e por vezes espiritual, que nem os sábios nem os pensadores puderam mais controlar. Mais valeria conhecer melhor em especial a influência dos grandes homens políticos que têm como que a intuição genial do lado pelo qual se deve tomar os homens para os fazer agir num determinado sentido. E a influência desses homens políticos vai aumentando. Eles souberam pôr ao seu serviço a ciência e a cultura.
Neste assunto, sei-o eu, vocês são mais vítimas do que responsáveis. Mas nada disso altera nesse destino diabólico de um pensamento generoso, de investigação desinteressada, duma razão lógica tão orgulhosa das suas conquistas e das esperanças entrevistas, de religiões que exaltam tudo quanto o indivíduo traz em si de benéfica humanidade, e que são desviadas dos seus objectivos, domesticadas, subjugadas pelas forças más tão bem camufladas que já se não distingue nem o bem nem o mal, e que nos espantamos plo vertiginoso caos em que soçobram as mais comovedoras veleidades.
Vou explicar-lhe isso à minha maneira, porque dificilmente me debato com as grandes palavras, e os pensamentos a que vós chamais abstratos não me são familiares... [...]
Célestin Freinet – A Educação pelo Trabalho 1943 Editorial Presença 2ªEd. Fevereiro de 1974 Pag.95/6
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