05 abril 2010

Laus_Perene

E rebentam morteiros anunciando o cessar dos préstitos e (toda a noite) a ressurreição, glorificando a chegada e ida de gentes sem fim. Foram ininterruptos os fogos vivos e as variações de celsitude: ao extremo Norte do país e subir o rio ali tão perto, para celebrar o amor na sua ausência física, com os casais de visita.

Depois da última procissão para o enterro do Senhor avistado ali na entrada da sé, depois do bacalhau farto (petinga com arroz de feijão, javali suculento e alheira) e ainda regado no subura com amêndoa e macieira, ouvimos o silêncio do arrastar dos estandartes enquanto um reencontro desenhado pelo destino é feito de forma breve e intemporal; traçar o novo caminho em tríade santa com aquecimento a gás sem encaixe possível (para já), limão e gin tónico: baptismo no lima, passeio pelas ínsuas do vez, de são paio à toca da floresta e subir os montes dourados pela flor do tojo até à entrada na serra que escorre no seu degelo infinito, visitamos os espigueiros cruzados pelo isolamento (não me importaria de morrer ali!) e percorremos a estrada sem fim que nos leva às bouças entremeadas pelas veredas graníticas, bois de repasto e cavalos selvagens, onde paramos para um raio de sol e subimos à peneda; enquanto o casal que veio do frio espera na base, exalto a cascata gigante que cai sobre o santuário, debaixo do aguaceiro intenso e continuamos a ascensão da 202 - eis que surge o milagre da neve, que assusta os viajantes pela densa brancura que começa a cobrir a paisagem; mas não tememos e, de melgaço, descemos o vale do alvar(m)inho por monção e valença.

A páscoa desperta no caminho para a invicta entre telefonemas aos familiares e almoço de cabrito e arroz no forno com as princesas do Sul - actualizam projectos de servir e (gémea) voltar, depois de destruir nomes arrogantes; antecedido pelas memórias familiares da alma e sua tia senhorial que viviam da terra, trabalhada de sol a sol, com cinco refeições diárias e subserviência ritual, cronológica, maternal; durante a refeição, histórias de casas habitadas para sempre e após compra do ticket de admissão no antigo mosteiro, seguimos pelas vias fartas de trânsito, suspensos no tabuleiro inferior, contemplando a estreiteza e emersão da cidade pétrea para descobrirmos os caraçóis de asfalto debaixo da via rápida até ao íngreme couto da antiga broa, descrita na literatura, e chegarmos ao rio maior por uma melancólica reentrância para café e continuação da estrada perdida para a barragem de crestuma_lever (love calls); o regresso é feito sob os precipícios verdejantes até à foz, por debaixo de todas as pontes, bongo e rodela de abacaxi fresco para posfácio da estação.


Pelos dezasseis anos da morte de cobain e pelo primeiro do Catatau, neste dia.

3 comentários:

paulo disse...

sempre gostei da sonoridade de "lausperene", uma palavra-expressão curiosa. de resto: é impressão minha ou o balanço do (e pelo) Minho foi só a motivação/desculpa para comer bem e ver melhor? se sim, é bom; se não foi, devia ter sido.
grande abraço

João disse...

Também significa louvor perpétuo: às pessoas, à natureza_clima, ao tempo!

Abraço feliz

João Roque disse...

Foi muito bom!!!!!!!!!!!!
E uma só palavra: OBRIGADO! (do fundo do coração).
Beijos.