26 abril 2010

Madrugada

Dos que morreram sem saber porquê
Dos que teimaram em silêncio e frio
Da força nascida no medo
E a raiva à solta manhã cedo
Fazem-se as margens do meu rio.

Das cicatrizes do meu chão antigo
E da memória do meu sangue em fogo
Da escuridão a abrir em cor
Do braço dado e a arma_flor
Fazem-se as margens do meu povo

Canta-se a gente que a si mesma se descobre
E acorda vozes_arraiais
Canta-se a terra que a si mesma se devolve
Que o canto assim nunca é demais

Em cada veia o sangue espera a vez
Em cada fala se persegue o dia
E assim se aprendem as marés
Assim se cresce e ganha pé
Rompe a canção que não havia

Acordem luzes nos umbrais que a tarde cega
Acordem vozes e arraiais
Cantem despertos na manhã que a noite entrega
Que o canto assim nunca é demais

Cantem marés por essas praias de sargaços
Acordem vozes_arraiais
Corram descalços rente ao cais, abram abraços
Que o canto assim nunca é demais
O canto assim nunca é demais

Letra e música: José Niza / José Luís Tinoco
Maestro: Pedro Osório | Intérprete: Duarte Mendes

Ao Amor, pela madrugada de hoje! (porque não precisa de mais nada)

1 comentário:

João Roque disse...

Sim, não bastava nada mais, pois o poema já diz tudo.
Mas a voz e o "charme" do Duarte Mendes são sempre uma mais valia.
Abraço.