27 março 2011

For_Give

A ideia de catástrofe que toda a semana assolou os espíritos foi inversamente proporcional à calma que me trouxe uma subida aos tectos a conservar da entrada monumental e às vistas da cúpula da bolsa invicta que dita o caos humanitário (nesta concepção a tornar-se ultra_passad@); uma longa conversa em pufs no mercado negro feito clube duro, de fissuras que se curam em terapia de palavras, restauram a porosidade original e permite a respiração de tudo o que foi erguido; belo banquete de mar à chuva e passeio na largura do areal nocturno a que se chega subindo o traçado marginal da costa_foz; afinal já não vou ao luso rencontro materno pois um sentimento de aglutinação e perdão força-nos a perma_nascer (saudades xana y patty, clau y bisnas, bemvindos Maria y Martim!)

A vida do homem dura em média oitenta anos. É contando com esta duração que cada um imagina e organiza a sua vida. O que acabo de dizer é uma coisa que toda a gente sabe, mas raramente nos damos conta que o número de anos que nos é atribuído não é um simples dado quantitativo, uma característica exterior (como o comprimento do nariz ou a cor dos olhos), mas faz parte da própria definição do homem. Alguém que pudesse viver, com toda a sua força, duas vezes mais tempo, portanto, digamos, cento e sessenta anos, não pertenceria à mesma espécie que nós. Já nada seria semelhante na sua vida, nem o amor, nem as ambições, nem os sentimentos, nem a nostalgia, nada. Se um emigrado, depois de vinte anos vividos no estrangeiro, regressasse ao país natal com cem anos de vida à sua frente, pouco experimentaria da emoção de um Grande Regresso, provavelmente para ele isso nada teria de um regresso, não passando de mais de uma das voltas do longo percurso da sua existência.
Porque a própria noção de pátria, no sentido nobre e sentimental da palavra, liga-se à relativa brevidade da nossa vida, que nos proporciona muito pouco tempo para que nos apeguemos a outro país, a outros países, a outras línguas.


A ignorância – Milan Kundera (2003 - 6ª ed.Asa Pequenos Prazeres)


Por vezes, à beira-mar, no perpétuo movimento das águas e no eterno fugir do vento, sinto o desafio que a eternidade me lança. Pergunto-me então o que vem a ser o tempo, e descubro que não passa do consolo que nos resta por não durarmos sempre. Miserável consolo, que só os Suíços enriquece...

Stig Dagerman ~ A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer (5ªed, Fenda 2004)

1 comentário:

paulo disse...

desgraças à parte, gosto muito de Orelha Negra!

abraços