Adormeci depois de uma semana estouvada e ao acordar para pôr a máquina a lavar roupa, ligo o televisor que passa um documentário sobre a cidade da Beira em moçambique (autoria de Anabela de Saint-Maurice). Descrevendo os tempos áureos do convívio colonial na imensa piscina do hotel com o mesmo nome, faz a resenha histórica do nascimento da povoação sobre o areal_mangal, resume a explosão demográfica pelo mega(idílico)projecto urbanístico que a implantou como concorrente da capital ex-Lourenço Marques; inicia-se com a visita do arquitecto que o erigiu à sua actual e degradada utilização residencial, e à moderníssima estação de caminhos-de-ferro que apenas recebe um comboio diário repleto de trabalhadores; passa a história de uma actriz branca que aí se fixou com um projecto cultural (casada com o responsável pela expansão das ferrovias, que recebe o idoso senhor na bem conservada estação), o arquitecto chinês que também aí nasceu de família comerciante imigrada e que pelo país se manteve, do vice-presidente da comunidade hindu com uma pequena indústria de tecelagem em crescimento e pequenos projectos voluntários para o desenvolvimento local, e, por último, voltando aos actuais “hóspedes” do hotel, os verdadeiros(?) moçambicanos, um casal que tal como a maioria, vive do biscate e do comércio de rua, ele, um ex-combatente entre frelimo_renamo, ambos sem filhos. Nesta mistura de culturas contada pela conquista de espaços, surge uma identidade global feita de reajustes históricos. Antes e depois na programação, dose dupla de cinema português, pré e pós final de milénio, com intenções comerciais diferentes.
"As grandes descobertas surgem por equívocos."
2 comentários:
Quando estive em Moçambique, no serviço militar, estive mais de um mês na Beira e nunca vi uma cidade com uma urbanização tão deficiente; de uma extensão enorme, havia quase um "deserto" entre a zona da praia, Macuti, onde estava situada a messe de oficiais e o centro da cidade.
Quanto à dose dupla do cinema nacional, o "20,13" é um filme muito pessoal para mim, pois fui capitão numa companhia daquelas no meio do mato e tive que "conter" a minha homossexualidade, apesar de ver "tanta coisa"...
Quanto ao "Porto Santo", lamento quase nunca ser referido o nome do protagonista masculino, só por não ser tão conhecido como a Ana Zanatti, a Leonor Silveira e a Beatriz Batarda; trata-se do meu velho amigo Carlos Medeiros que há muito não vejo e a quem gostava de dar um abraço.
Um abraço também para ti, amigão.
Abraço Imenso, Pinguim (Gande, gande, gande...)
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