Mosaico em Pompeia representando a Batalha de Isso - 333a.C |
Vinte e três dias depois da sua abertura, dou entrada na cidade, ao som da Marselhesa, depois de um belo cabrito em Leixões, ao lado do pavilhão do siza – e corremos a estrear os lavabos: «“Às Artes, Cidadãos!” insinua-se no Hall do museu com a exposição “Nas Margens da Arte”, comissariada por Gun Scharen. É toda uma história do activismo feito nas fronteiras da arte que se revela ao espectador. Livros, obras gráficas, panfletos das Guerrilha Girls e do colectivo Act Up, que combateram, respectivamente, a discriminação das mulheres na arte e na política, e a discriminação dos portadores de HIV na sociedade norte-americana. Cartazes e publicações do movimento contra-cultural holandês, que antecipou o Maio de 68.Uma antecâmara da vida política antes da ou com a arte.» (Re)Leio passagens do manifesto assinado por Rivera, Trotsky e Breton e rasgam-nos levemente ao centro o ticket para, depois de ler a introdução na parede atravessada, do lado esquerdo, e virarmos à direita - após confronto velado e catanas sul-americanas - sentarmos e vermos a curta do Senhor Manoel com este final (ver abaixo).
Seguimos pelo corredor que mostra ali e nas três salas seguintes os premiados do BES Revelação deste ano: de cada lado, quatro sequências de um exercício de fotografia em “matizes urbanas” de “gradações mi(li)mét(r)icas”; depois segue-se a sala escura com “projecção vídeo em plano duplo” onde se acompanha com “excertos de paisagem e vegetação”, o diálogo entre dois ornitólogos – levamos um exemplar A3 cada um, em letra minúscula; rapidamente saltamos a sala do canto com puffs para assistir à “colagem frame a frame” feita “às cegas, da mais antiga à mais recente”, sobre o quotidiano da artista; por último, a sala branca que é “uma peça áudio onde se ouvem excertos da Teoria das Cores de Goethe”. «A partir daqui desenha-se um percurso pontuado pela História como construção política, com as suas narrativas e momentos tratados pela ambiguidade livre da arte.» Começa a escurecer e depois da apresentação dos trabalhos da Liga dos Trabalhadores Culturais Revolucionários e interrompidos pelas mensagens superiores como em tecto de casa-de-banho pública - feitas a queimado de isqueiro pelos Claire Fontaine, descemos os pisos rapidamente para adoptar um enxame de abelhas, entender onde estávamos então e onde estamos agora, para voltar a subir o ascensor e sair de peito arfado e alma transbordante. «“Às Artes, Cidadãos!” parece uma exposição adequada, útil para os tempos em que vivemos. Sobretudo porque permite aos espectadores imaginarem outras formas de viver e agir politicamente. Mas não se espere qualquer conforto ou cura para a ansiedade diante do futuro.»
Vislumbramos, a caminhar lentamente, a largueza dos jardins em bela harmonia de caminhos, recantos, cascatas sobrepostas até ao prado que contornamos directos à vedação aberta, sem touro. Deslizar dali para fora e convergimos para o cabo do mundo onde a chama eterna deflagra neste rectângulo assinalado pelo obelisco. Perdidos por angeiras e labruge, desembarcamos para snack com morzinho e pausa de sempre em frente aos estaleiros navais e encerramos o percurso contracurveado com planos aproximados ao convento no alto. Devolvida a companheira e enquanto preparo a sopa da semana, busco citações e vejo_ouço o Senhor António falar no câmara clara sobre as suas artes. Estas são as minhas Horas de Douro! «As de cima são deste artigo de José Marmeleira, no Ípsilon de dezanove de Novembro e da brochura. O catálogo é publicado em dois volumes e o segundo conta com documentação relacionada com o programa paralelo à exposição, que decorre por mais três meses.» Boa Semana!
3 comentários:
Não, não fui ver a concentração de Pais Natais!
Mas quem iria trocar Serralves por isso?
Só tenho pena que não tivesses comido o cabrito...
O cabrito degustei e digeri muito bem - fomos só aliviar o vinho e lavar as mãos... para pegar na Arte!
Abraço!
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