11 dezembro 2010
Fluvial_Canvas
«"Douro, Faina Fluvial" foi o primeiro filme realizado por um muito jovem Oliveira, que ainda não tinha 23 anos quando o filme estreou. A estreia na sala, nesse ano de 1931, forneceu, de resto, um episódio que se tornou lendário: intrigado com a pateada com que os espectadores em seu redor acolheram o final da projecção, um visitante estrangeiro (de seu nome Luigi Pirandello) teria perguntado, com genuíno pasmo, se os portugueses tinham por hábito aplaudir com os pés.
Pirandello seria apenas o primeiro de muitos estrangeiros surpreendidos com as pateadas nacionais aos filmes de Oliveira, e "Douro, Faina Fluvial" rapidamente reconhecido como um título fundamental entre o mais moderno cinema europeu da época, coisa que o tempo não cessou de confirmar. Inspirado pelos vários movimentos da "vanguarda" (os alemães, os russos) que frutificaram nos últimos anos do mudo e despertaram inúmeras vocações, "Douro" partia de um dos mais expandidos modelos dessa "vanguarda", a "sinfonia da cidade" (como o célebre filme de Ruttmann sobre Berlim), aplicado à cidade natal de Oliveira, o Porto e à sua zona ribeirinha. Plenamente a par do seu tempo, nesse entendimento do cinema como construção de um movimento abstrato gerado pela montagem e pela criação de ritmos e de uma musicalidade visual, é um filme embebido pela força do concreto que é a sua matéria, humana e urbana, e é por aí que ele se trancende e trancende a sua época, vivendo hoje com o mesmo vigor com que há 79 anos.
Pese toda a sua especificidade, é também o princípio de uma obra, por tudo o que o liga ao restante "corpus" oliveiriano. A versão levada à sala é a sonorizada com música de Luiz Freitas Branco (no DVD estarão as outras duas versões, a muda de 1931 - que aqui serve de parênteses -, e a que tem partitura de Emanuel Nunes, apresentada por Oliveira em 1994).»
Crítica de Luís Miguel Oliveira no Ípsilon de ontem - a propósito dos Painéis...
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2 comentários:
Sempre atento às datas.
Ontem a Declaração Universal dos Direitos Humanos; hoje o 102ª. aniversário de Manuel de Oliveira.
A provecta idade one O two merece a lembrança da sua soma e o providencial relançamento da obra no circuito comercial também!
E a ordem das efemérides foi discutida com um formador de Cidadania!
Abraço Humano!
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