24 fevereiro 2011

Need You Now


Hush darling, don't you cry
Hush darling, don't you cry
Cause they're never gonna reach you, never gonna reach you

Hush darling, don't you cry
Hush darling, don't you cry
Cause they're never gonna reach you, never gonna reach you

In the morning I come down
In the morning I break down
But you're never gonna get away
Gonna get away

I know I'm running baby
but I need you now
Said I know we're going crazy
but I need you now
I need you now
To fight somehow

I know we're running baby
but I need you now
I know we're going crazy
but I need you now
I need you now
To fight somehow

There's a beauty in the waking night
There's a memory waking up
But it's never gonna reach you
never gonna reach you

In the morning I come down
In the morning I break down
But you're never gonna get away
Gonna get away

Hand touches your body now
Lips touch as you're falling down
Run for the last train
One of them will get you home

I know we're going crazy,
but I need you now
I know we're running baby
but I need you now
Need you now
To fight somehow

I know we're going crazy
but I need you now
I know we're running baby
but I need you now
I need you now
To fight somehow

But I need you now


Tonight

Tonight

Making of Zonoscope on their Site/Videos

21 fevereiro 2011

Zeit_Geist

Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!
Então começa assim: a soturna rotina estabelece-se e pré-determina os limites da pausa seguinte; já nada o demove de se arrestar pela sua jaula que o pára nos momentos precisos em que o satélite estático prende o firmamento cheio de porções de água a sobrevoar a cidade-mãe. Adotado o novo instinto, nem a sua verdadeira família o tira dali, naquela que é a última pausa antes da integração voraz da cria partilhada; e vai pela cálida manhã à espera que o tempo lhe traga as novas da outra margem. Muda a letra, o fundo musical e regressa ao palco actuando para uma pequena plateia cheia de laca e de peles – afina a voz e trina:

Depois aguarda que o vento acalme pela madrugada e na primeira luz, lê as frescas divinas, liberta-se da penugem a mais e encontra os restícios da noite que a mala não carregou. Faz o caminho de volta até ao alto corgo onde os cumes em linha cintilam pelo que resta do sólido frio e subitamente as abismais cataratas de pedra e vinha catapultam-no para o seu íntimo nesta naçoum. Penetrando no coração bem medido do rio, pisa os morteiros costumeiros do dia e admira o serpenteio sob os arcos em sopé aquático assomando os álamos em frente ao cais; da quinta altaneira, no contraste bordeaux, o rebelo parado contempla os garnizés que ecoam em espelho e precedem a hipergrafia cromática num leve sopro com chuva de modernidade. Refeições consoladas de néctar humano espreitado nas caves alienadas em todo o processo de fabrico – a raiz colcheia como um fungo árduo, enxertada no seu velho içar; depois do rebatar dos bombos, é lançada a rede e enrolada pelos carris, chegamos a uma mesa farta de humidade e secura q.b. para alcançar o leito primário:

O que é bonito neste mundo, e anima,
é ver que na vindima
de cada sonho
fica a cepa a sonhar outra aventura...
e que a doçura
que se não prova
se transfigura
numa doçura
muito mais pura
e muito mais nova

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem' (1944)

18 fevereiro 2011

Lotus_Flower

Mas não a deixeis desabrochar! - Fazei como o mi(ni)stério da Educação: demonizai! (assim mostra a crónica_poesia de Diana Dionísio.)

I will sneak myself into your pocket
Invisible, do what you want, do what you want
I will sink and I will disappear
I will slip into the groove and cut me up and cut me up

There's an empty space inside my heart
Where the wings take root
So now I'll set you free
I'll set you free
There's an empty space inside my heart
And it won't take root
Tonight I'll set you free
I'll set you free

Slowly we unfurl
As lotus flowers
And all I want is the moon upon a stick
Dancing around the pit
Just to see what it is
I can't kick the habit
Just to feed your fast ballooning head
Listen to your heart

We will sink and be quiet as mice
While the cat is away and do what we want
Do what we want

There's an empty space inside my heart
And now it won't take root
And now I set you free
I set you free

Because all I want is the moon upon a stick
Just to see what it is
Just to see what gives
Take the lotus flowers into my room
Slowly we unfurl
As lotus flowers
All I want is the moon upon a stick
Dance around a pit
The darkness is beneath
I can't kick the habit
Just to feed my fast ballooning head
Listen to your heart

14 fevereiro 2011

Off_Side

Uma vez que não há celebração (mas estarei sempre com homens, um de cada vez, até ao final do dia), que tal uma intrusão? O último filme do cineasta iraniano condenado à cadeia por filmar (contra) o regime. Trailer aqui e reportagem desde Cannes aqui - com o artigo de Jorge Mourinha no Ípsilon.  Este é o final!


Bons "jogos" para Tod@s logo à noite - mas não percam a cabeça!

13 fevereiro 2011

Beni_Doors

Já começa a ser hábito a febre de sábado à tarde; desta vez faço o caminho de velhos amores e sexo frugal: uma paragem antecessora no carreço, vejo a força do mar arrebatador e revoltoso e de novo camarido – mas agora paro na fortaleza: entro e desço pelas leiras, as ruas estreitas até à pensão galo d’ouro, ao lado os pitas, no centro o fontanário (ontem foi com o leite de arroz dos cremes)... outra vez no alto, avisto todo o estuário que se desdobra depois da ponte e entra na arga. Também eu viro pelo vilarelho, venade e começo a subir o rio dos mouros que liga os festivais: primeiro o desbaste da direcção mecânica pela topografia da rota e dos cerros antrópicos; pouco a pouco os pequenos muros_barreira sobem com a paisagem que se mostra na naturalidade tão característica, nativa das covas e águas longas que caem por oblíquos açudes, entre bosques nús e pastagens de socalco quadriculadas. Toda a 301 quase sem luz até ao topo da coura que se mantém sobranceira - poderia ter cá vindo pelos narcisos mas foi apenas pelo revivalismo de verões que não cheguei a ter. Um café com broa após conversa sobre o aumento dos combustíveis em reabastecimento e agora um chá verde com jasmim enquanto vejo as cinzas do tempo e ouço o "fechamento". Pelo caminho notei a reposição da ópera de John Adams 24 anos depois, em tempos de revolução e diplomacia.


Act II Ending - Madam Mao desires to save the peasants at all costs leading her to become more brutal than the landlord was in the first place. Eventually, a riot develops on stage with Chou and Madam Mao on opposite sides - the opera has become a rerun of the Cultural Revolution. - Quote from Lyrics: (Chiang Ch'ing)"I am the wife of Mao Tse-Tung who raised the weak above the strong. When I appear[,] the people hang upon my words". On MET


«War, this monster of mutual slaughter among men, will be finally eliminated by the progress of human society, and in the not too distant future too. But there is only one way to eliminate it and that is to oppose war with war, to oppose counterrevolutionary war with revolutionary war, to oppose national counter-revolutionary war with national revolutionary war, and to oppose counter-revolutionary class war with revolutionary class war.... When human society advances to the point where classes and states are eliminated, there will be no more wars, counter-revolutionary or revolutionary, unjust or just; that will be the era of perpetual peace for mankind. Our study of the laws of revolutionary war springs from the desire to eliminate all wars; herein lies the distinction between us Communists and all the exploiting classes.»
"Problems of Strategy in China's Revolutionary War" (December 1936), Selected Works,  Vol. I, pp. 182-83. Mao Tse-tung


«History shows many examples of political leaders playing on nationalist feelings and attempting to demonize holders of contrary opinions. They soon become foreign agents. This has sometimes happened in the name of democracy and freedom, but almost always with a tragic outcome.
We recognise this in the rhetoric of the struggle against terrorism: "You are either for me or against me." Such undemocratic methods as torture and imprisonment without sentence have been used in the name of freedom. This has led to more polarisation of the world and harmed the fight against terrorism.
Liu Xiaobo is an optimist, despite his many years in prison. In his closing appeal to the court on the 23rd of December 2009, he said: "I, filled with optimism, look forward to the advent of a future free China. For there is no force that can put an end to the human quest for freedom, and China will in the end become a nation ruled by law, where human rights reign supreme."»

Award Ceremony Presentation Speech by Thorbjørn Jagland, Chairman of the Norwegian Nobel Committee, Oslo, 10 December 2010.

11 fevereiro 2011

Hell_Vetti


[...]«Serás tu então esse Virgílio, essa fonte donde a fala brota qual caudaloso rio?» retorqui, a face enrubescida. «Ó honra e fanal dos outros poetas, valham-me o longo estudo e o grande amor que a tua obra me fizeram procurar! És o meu mestre e o meu autor: unicamente a ti devo o belo estilo que a glória me buscou. Eis a fera que me obrigou a recuar; ajuda-me tu, famoso sábio, contra a que me faz o pulso e as veias palpitar!»
«Melhor será que esse outro caminho sigas», respondeu, ao ver-me assim chorar,«se deste lugar selvagem pretendes fugir; pois a fera que assim te faz gritar não deixa ninguém passar pelo seu trilho, e de tal modo o impede que lhe tira a vida. A sua natureza é tão malvada, tão perversa, que nunca satisfaz o seu ávido apetite, e após comer, tem mais fome ainda que antes. Muitos são os animais aos quais se une e mais serão ainda, até que finalmente chegue o Galgo, que dolorosa morte lhe dará. Este não terá como alimento terra ou riquezas, mas sim a sapiência, o amor e a virtude, e a sua pátria entre feltro e feltro ficará. Há-de ser ele a salvação da humilde Itália, pela qual morreram a virgem Camila e Euríalo, Turno e Niso se feriram. Ele expulsará a fera de todas as cidades, até devolvê-la ao Inferno, donde a inveja a arrebatou. Pensei, assim, para teu bem o decidindo, que me seguisses, pois te servirei de guia, daqui te levando até ao lugar eterno onde ouvirás os ais desesperados, e verás os dolentes espíritos antigos, chorando acad um sua segunda morte, e verás os que no fogo estão contentes, pois esperam chegar, quando quer que seja, a unir-se aos bem-aventurados.»[...]

Canto I do Inferno – A "Divina" Comédia  Pág. 11/12 das edições de bolso Europa-América no D.N.
Painel na minha Uni de Malangatana
Inspirado na leitura do ensaio exclusivo de Alberto Manguel na Ler nº99 – “Deus, Dante e o Cão”; ainda os interessantíssimos artigos do editor F.J.V. “Regresso ao Silêncio”, “Ilha” de F.N.V., “A Acácia-Rubra” de J.E.A., “Filantropia” de A.B.B., o nosso Pitta que ali deixa a homenagem, a entrevista a Pedro Tamen, o pré-heterónimo de Fernando Pessoa, ou seja, Tudo.

06 fevereiro 2011

Brother_Land


Run Rabbit Run - Flanagan & Allen

«What does it mean to ask about the relationship between nature and the sacred? Taken in a Durkheimian sense, to regard something as sacred is to set apart from the routine and the everyday; to attribute to it some kind of divine or transcendent characteristic, power or significance; to treat it as an end in itself rather than as something that can legitimately be used solely as a means to an end (Durkheim, 1915). However, Kay Milton criticizes this approach to defining sacredness, arguing that such a definition only specifies how sacred things are treated, and says little or nothing about how and in what way they come to be seen as sacred in the first place (Milton, 2002). She discusses a number of different approaches to defining how nature can be thought of as sacred. She considers Posey’s (1998) argument that indigenous cultures see nature as sacred because they see it as having a close relation to a spirit world, and Gregory Bateson’s ideas that sacredness consisted in a wholeness and that it depends on non-communication or non-cognitive processes (Bateson & Bateson, 1987; Bateson 1991). But Milton finally settles on a definition of sacred as “what matters most to people”, thereby linking it to her ecologically grounded theory of emotions (2002).»

Nature, Technology and the Sacred by Bronislaw Szerszynski (2005) here! Beginning of Chapter after the One – The disenchantment of the world


Sufjan Stevens & Osso - Year Of The Dog

Não dormir no quarto mas sim na sala com o televisor ligado e acordar com o tesouro revelado no desenho. Percorro o mapa dos locais tocados no passeio de ontem e descubro a geometria das estradas antigas que haviam ficado de fora – a antiga 106 abandonada nos troços mais sinuosos e acidentados chega ao vale do mesio; depois de sousela, abre-se no despertar da bruma e da modernidade, cruzado por viadutos e nós interrompidos, trazendo o cheiro fresco das mimosas invasoras; mansões também amarelas e desabitadas polvilham os ares de mudança, bem como os animais que se decompõem nas bermas das curvas; depois o sousa que avisto do alto do jardim na penha fiel ao seu planalto, em plena rota do românico. Um rápido recuo que evoca memórias nebulosas pelas termas de são vicente e desagua nas frentes dos rios parados, de um castelo ausente e dos protestos actuais. A partir daqui, todo um geoparque atravessado aos ésses por entre veredas cobertas de vastas explorações de eucalipto – como é que a dona Mafalda teria ali chegado? Já agoniado, circundo as encostas do enclave avistando o mosteiro ao fundo e aterro no destino da salvação do dia, guiado pela rádio local. Visita pública aos pátios e solares, rápida aos interiores de talha, pinturas e esculturas; subida conjunta em meia caminhada até à mó com apanha de carqueja, esforço e liberdade; chás, glórias e broinhas com ovo – não houve tempo de trilobites, pedras parideiras ou carne local. O regresso foi uma perdição e estive toda esta tarde preso às máquinas: quero sol!


Fleet Foxes - Innocent Son

05 fevereiro 2011

Yasmin_Solace

«And how beguile you? Death has no repose
Warmer and deeper than that Orient sand
Which hides the beauty and bright faith of those

And now they wait and whiten peaceably,
Those conquerors, those poets, those so fair:
They know time comes, not only you and I,
But the whole world shall whiten, here or there;

When those long caravans that cross the plain
With dauntless feet and sound of silver bells
Put forth no more for glory or for gain,
Take no more solace from the palm-girt wells.

When the great markets by the sea shut fast
All that calm Sunday that goes on and on:
When even lovers find their peace at last,
And Earth is but a star, that once had shone.»


A Ghazel*

How splendid in the morning grows the lily: with what grace he throws
His supplication to the rose: do roses nod the head, Yasmin?


But when the silver dove descends I find the little flower of friends
Whose very name that sweetly ends I say when I have said, Yasmin.


The morning light is clear and cold: I dare not in that light behold
A whiter light, a deeper gold, a glory too far shed, Yasmin.


But when the deep red light of day is level with the lone highway,
And some to Meccah turn to pray, and I toward thy bed, Yasmin;


Or when the wind beneath the moon in drifting like a soul aswoon,
And harping planets talk love's tune with milky wings outspread, Yasmin,


Shower down thy love, O burning bright! For one night or the other night,
Will come the Gardener in white, and gathered flowers are dead, Yasmin


James Elroy Flecker - Thirty-Six Poems (1910)
*A ghazel is a Middle Eastern or Indian lyric poem with a fixed number of verses and a repeated rhyme.

03 fevereiro 2011

Snow_Child

Meados de Inverno – invencível, imaculado. O conde e a sua mulher vão a cavalo, ele numa égua cinzenta, ela numa preta, ela envolta em brilhantes peles de raposas pretas; e levava botas cintilantes, pretas, altas, com saltos escarlates e esporas. Neve fresca caía sobre neve já caída; quando parou, o mundo inteiro estava branco.
- Gostaria de ter uma menina tão branca como a neve -, diz o conde. Continuam a cavalgar. Chegam a um buraco na neve, este buraco está cheio de sangue. Ele diz:
- Gostaria de ter uma menina tão vermelha como o sangue.
Continuam a cavalgar, está um corvo pousado num ramo nu.
- Gostaria de ter uma menina tão negra como as penas do corvo.
Assim que acabou a sua descrição, ali estava ela, ao lado da estrada, pele branca, boca vermelha, cabelo negro e completamente nua; era a filha do seu desejo e a condessa odiou-a. O conde pegou nela e sentou-a à sua frente na sela, mas a condessa só pensava numa coisa: «Como é que eu me vou livrar dela?»
A condessa deixou cair a luva na neve e disse à rapariga que descesse e a procurasse; tencionava ir a galope e deixá-la ali mas o conde disse:
- Comprar-te-ei luvas novas.
Naquele momento, as peles saltaram dos ombros da condessa e enrolaram-se em volta da rapariga nua. Depois a condessa deitou o seu broche de diamantes através do gelo para um lago gelado:
- Mergulha e vai buscá-lo – disse ela; pensava que a rapariga se afogaria. Mas o conde disse:
- Ela é peixe, para nadar com um tempo tão frio?
Nessa altura as botas saltaram dos pés da condessa e enfiaram-se nas pernas da rapariga. A condessa estava agora nua que nem um osso e a rapariga cheia de peles e com botas. O conde teve pena da mulher. Chegaram a uma roseira toda em flor.
- Apanha-me uma - disse a condessa à rapariga.
- Isso eu não te posso negar – disse o conde.
E assim a rapariga apanha uma rosa, pica-se no dedo com um espinho, sangra, grita, cai.
Chorando, o conde descedo cavalo, desabotoa as calças e lança o seu membro viril dentro da rapariga morta. A condessa dominou a égua que batia com os cascos e olhou-o de perto, ele acabou em breve.
A rapariga começou então a derreter. Em breve nada mais restava dela a não ser a pena que algum pássaro possa ter deixado cair, uma mancha de sangue, qual trilho de uma raposa na neve, e a rosa que ela tinha arrancado. A condessa tinha de novo toda a sua roupa. Com a sua longa mão, acariciou as peles. O conde apanhou a rosa, fez uma vénia e entregou-a à mulher: quando ela lhe tocou, deixou-a cair.
- Ela morde! – disse.

Angela Carter The Bloody Chamber 1979 publicado na colecção ficção científica da Caminho 1991 Pag.133/4 tradução de Mª Adélia Silva Melo.