31 março 2010

Faith's_Act

Decidi queimar incenso e a pesquisa wiki foi reveladora do acto inquisidor da igreja católica sobre este ritual ancestral e universal (comparem com o primeiro, apesar das indicações iniciais e revejam o mapa mundi percentual dos crentes). Assustado, continuei a busca: dogma e doutrina, a perseguição da heresia e o culminar no fanatismo. Preparo-me respeituosamente para o confronto: vou lançar fogo nestas cabeças... mas primeiro a chuva, numa alegoria de umbrellas e arlequim.

30 março 2010

Opus_(Populis)Dei

"Quando o genero humano, no seu caminhar contínuo para a perfectibilidade de que ainda está tão remoto, e a que nunca chegará porventura, é agitado por uma idéa profundamente progressiva; quando as nações peregrinas na estrada infinita da civilisação se lançam rapidamente para o futuro, forçoso é que essa idéa se incarne em todos os modos d'existir das sociedades, e que cada um delles sirva para a fazer triumphar: se em uma ou outra das fórmas sociaes da actualidade ha harmonia com a idéa que representa o futuro, esta a pule, melhora e completa: se pelo contrário entre o que existe e o que deve existir ha desharmonia, o pensamento que representa os factos que hão-de ser, ou transforma ou destroe os factos que são, porque o resultado da lucta entre o passado e o porvir nunca é duvidoso, ainda quando a favor daquelle e contra este esteja casualmente a força material e ainda a moral, os interesses, os hábitos e a inércia natural do homem. Clara é a razão disso: os dias das nações são os annos, em quanto os annos para os individuos são a vida: o sepulchro rareia de hora a hora as fileiras dos defensores das instituições decrépitas; de hora a hora engrossa o berço as alas dos que pelejam sob o estandarte da esperança. Assim o progresso social, lento e imperceptivel muitas vezes para os individuos, é rápido para as nações. A todos os momentos, no vasto cemiterio dos séculos chamado historia, se grava sobre as campas das leis e dos factos, dos costumes e das gerações, das opiniões e dos homens um memento para a curiosidade, para a experiencia e muitas vezes para o escarneo. Nisto me parece resumirem-se os annaes de todos os povos: isto é a substancia do que se tem passado entre nós desde o anno de 1833."

No rescaldo dos prós e contras de ontem - pelo bicentenário (atrasado) de Alexandre Herculano 
Opúsculos - Tomo 8: Questões públicas

27 março 2010

Levi_Atan

A semana foi exaurida pelas provas colossais à paciência desta pessoa que aqui se apresenta. E de nada lhe serviu as poucas horas em casa pois uma insónia transitória acompanha-o como uma sombra, há dias a mais. Excitação pelas apresentações de si pelos outros, por vezes caindo na argumentação agressiva necessária para a revelação dos seus interesses_intentos.
A primeira acabou bem para todos, com um jantar de francesinhas, à excepção da angústia aniversariada; a segunda foi a super_observação de finalista para ajudar nas suas escolhas - e analisámos gráficos de produção de escórias, saída de lanches e, pelos três simples, encontrámos ivas, voltámos ao minipreço, refizémos receitas caseiras...; a terceira foi de vez, para a libertação do grupo - foi preciso um interrogatório forçoso de forma a seguir o roteiro programado- e a loucura de encontrar acasos entabulados no lugar do morto, escravizados nas luzes de xenon; a quarta foi a validação da abertura moral com a tentativa de diálogo estilado com o seu leviatã favorito - monárquico, anti-maçónico, clerical - que, na sua soberba, o obriga a gritar e cruzar a sala de trabalho para fumar um cigarro no parapeito do primeiro andar entre as grades, antes do toque de saída.
E não fosse o suficiente, no quinto dia, a certeza da imiscuição dos poderes nos deveres institucionais (nem o meu pai, que foi_era padre e professor, tendo uma escola debaixo de casa, o fez, e comungou sempre da patena pela sua própria mão) obrigou-o a perder a chegada do carteiro com os documentos que (finalmente) lhe dariam o privilégio do pagamento da formação para doá-lo devidamente pela sua substituição, à querida colega que o compreendeu (indo contra o chefe que, não entrando no "bolo", exige a indemnidade de si pelo carro acidentado) - por isso copia a carta à ministra desta associação cívica e pretende entregá-la ao convidado mas deixa-a sobre a mesa e afixa-a na sala dos crentes, que logo após o intervalo, começam a dirigir-se para a eucaristia escolar(oh, benza-os Deus!). Entra furioso no centro, prometendo rapar o cabelo e armar-se de quipá e longas barbas se o braga ganhar.
Até este senhor sabia dos perigos e estoutro o afirma hoje. Por isso, só para acalmar, ouço o furacão de abaixo e vou assitir ao lançamento, sugerido pela matriar_cidade.

22 março 2010

Co_Rect

 Homenagem a urbano tavares rodrigues
Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
P.S. - Os links são excesso de paulismo numa noite roxa.

21 março 2010

Lux_Aeterna

Um mezzo no sofá, depois da refeição partilhada, na mandriice...




A linha do horizonte esvai-se no ténue fogo_fátuo, sob as torres iluminadas de São Vicente e a cúpula de Santa Engrácia contrastante com o espelho escuro do Tejo: assim começa o entardecer desta nova estação, esgotada que ficou pelas noites e aniversários que a antecederam. Um matrimónio na força aérea de monsanto após buscas no cacém e entregas no senhor roubado, às voltas no aeroporto após dias de insónia, eléctrico para o bairro com o amor   de janela aberta   para subir ao terraço do bloco cinzento do combro e todos os patamares coloridos do parque  beijo_Te  tour do cemitério de benfica até à polícia de miraflores, a antena azulescente da PT sintoniza-nos ali na violência domésticas das gentes bem vestidas que se confrontam e suas crias  (found florence)   e no lounge e na casa do niza onde fica o transmissor até à madrugada em paz, à porta dos barbadinhos no alto da porciúncula - um requiem para este sonho...

18 março 2010

No Car(s)_Go

E começo a semana por pôr o carro no mecânico mas antes passo pela bomba do colégio para abastecer e verifico os preços com a senhora de sempre, encontro o senhor_rapaz encarregado da formação aguardando a aprovação das candidaturas às modulares; enquanto o depósito enche, cumprimento o senhor azevedo que fechou o mercado de baixo mas já circula por aí na venda de novos produtos e arranco, contornando a rotunda e entrego o veículo nas mãos do senhor teixeira para revisão, mudança de meio escape, filtros e pneus (também soldar o espelho lateral ) e sigo a pé para a escola; cumprimento a senhora negra em processo com o colega da noite louca, também crio a rotina de, nestes três dias, beber o café platina do maxi_pan onde encontro o vizinho de baixo e a rapariga de armações brancas do curso efa na biblioteca (aqui volto para tabaco, numa das noites, quase a fechar, depois de repetir o trio de maços durante dois dias pela manhã). A senhora da portaria saúda-me com entusiasmo, bem como o senhor do quiosque em frente, pela energia do equinócio; estou com os senhores silva de portefólios e níveis trocados, almoço com os colegas no príncipe do alto e a família sousa nos montes floridos da descida rural da cidade, sou de novo maternalmente transportado (tadi_nho!) e revelo o segredo médico na troca de alergias - primeira nocturna com o senhor H para relatórios, que termina com irritação pelo plágio; acordo na paternalidade da queda, peço para avisar e continuo até à entrega - não houve operação, só culpa e evitamento. Transporto computadores e mesas, deliro com coca-cola, feijoada de rabo na boca e a programação do nosso festival - chamado à recepção pelas cópias e enganos a cobrir, a coisa piora pelo cansaço óbvio, tudo se imprime e o senhor A aguarda a minha saída que se efectua sob um chuvasco necessário. Feliz, já com o novo selo no pára-brisas, lavo as superfícies da jóia e aqui estou "de volta p'ró meu aconchego". Amanhã ponho-me à estrada, depois da terceira noitada e telefonema do bisnau (porque sim - a devolver) e do mini (porque vem para cá - talvez...).

Fica este, publicado há três anos, também já tive trinta e um. (homenagem ao irmão velho)

13 março 2010

Be_There

1) Concluo agora um ciclo de preparação para o que há de_vir. Jantei entre as árvores de Jessé e o tesouro, entre os monges_modelo a beber cerveja na companhia da revolução omnisciente do pinguim e seu comparsa (isto assim soa a gang de massamá mas é só bem_querer!) e sobrinho e namorado extra_galego. Love calls para nova inspiração sobre a revelação drag dos anos setenta, com John Waters no seu melhor! Divine! Agora é só esperar por dois tribunais de ascensão gradual, um casamento, homenagem escolar ao pai, irmão no seu dia e pelo da progenitora. Ao descer a rua, antes do telemóvel tocar, assobiava isto:


(com toda a excepção dos odores espalhados nesta noite...)

2) Aproveito o facto de poder publicar nestas páginas para anunciar em directo que não deverei estar presente no quarto jantar bloguista. E isto, não por ter medo de me apaixonar - again (até porque continuo...), mas porque é aniversário da senhora minha mãe e sendo eu um filho querido da mamã e não indo visitá-la desde o Natal até à Páscoa, tenho esta oportunidade para a minha descensão de tempo incomum, já que me sacrificarei nesta cidade pelo amor de todos, expondo-me desde a quaresma até ao pentecostes, a quem me quiser creer.

3) Já do_mingo, acordei assim, disposto a meter-me pela história dos passos nesta Masada conquistada aos bracari e assim vendida ao fiel estrangeiro - fiquei a saber que para além do antony, também o zorn tocou aqui a sua regressão - ananás em receita proporcionada, duche de água fria e correr pelos teatros, termas e mosaicos do museu que levou duas décadas na sua montagem... Desculpem o excesso de links mas é como me sinto. Até_já!

P.S.- Também um tempo de muita pregação por aqui...

07 março 2010

Re_Ward

Já vão alguns meses, muitas viagens e tempos partilhados... De novo, regresso a correr da terra das mulheres tevolosas, de candeias às avessas, para buscar-te no balneário bracarense. Juntos, por mais três dias apenas, onde o primeiro acto concerne à exposição de japoneiras na sua pátria: muita gente em fotos e reportagens entre tabuleiros relvados (faltavam os cartazes - favor não tocar), espalhados na Biblioteca Almeida Garrett para o concurso; muitas espécies classificadas, melhor ou pior expostas sobre os mesmos, bem como os antigos catálogos de produtores da zona; e no final, ao fundo, atelier de reciclagem de cápsulas de café para criar pétalas e corolas e lições práticas de poda e enxertia. Segundo acto e sinfonia na casa trapezoidal: como não temos assintura ou lugares pré-estabelecidos, a solução é pedincharmos bilhetes a quinze minutos da entrada e a sorte benfazeja os audazes - os três separados, fico ao centro encarando os obreiros das notas, de coração aberto e olhos fechados, surpreendendo-me nos cinco andamentos, sendo eu próprio criatura e criador do momento. Saímos atordoados para o terceiro acto: celebrarmos o encontro com um rodovalho de bons ares em matosinhos, passeios entre os prédios hipoalérgenos renascidos do ventre das fábricas, circundamos a árvore grossa e invertemos, em boa hora, a marcha na senhora, para voltarmos a casa, com paragem para tabaco e jornais. Hoje, na calma da chuva aparente e confortável, duas roscas para os dois, postamos poesia, depois do brinde às flores e à musica, aguardando o(s) óscar(es)...

03 março 2010

Kata_Kiuchi

"A verdadeira errância, dizia-se Orlando quando ainda se falava consigo, era da ordem do desvario e ele nem ainda uma só vez perdera o tino. Fora uma escolha assisada entre perder-se nos confins da Ásia de luxo onde um mulato peralta e adolescente daria nas vistas hostis e perder-se  nas hordas do trabalho braçal, ameaçado e bem-vindo, à vez. Extenuado, emudecido, oculto numa identidade e num silêncio mental de pária , oculto nas baixas tarefas de onde podia desaparecer sem rasto, ao risco de greve, sublevação, linchamento, tão calado ao insulto como à fraternidade, mentindo a origem, ocultando o crime e o destino nos mesteres mais duros e mais imundos. Preso por um fio de oiro, Pixim d'Or, mas solto na escória de um continente, portuga e preto, pau para toda a obra a interpretar-se bronco e dócil. Que desempregado ariano com subsídio quereria refocilar em tamanha dejecção? Não quiseste escolher, és escravo, lembrara ele quando pensava ainda.Orlando, ora Emílio ileso aos detectives, não era escravo. Sobrevivia bem ao estridor de tanta matraca de trabalho duro. A tanta invenctiva dura. Nada o suplantava, ninguém. As mãos são de lixa, os pés de crosta, o chão mais baixo dez centímetros, o corpo, esguio embora, empedreniu.
Um ano atrás, um ano inteiro, um só golpe de machada teria bastado para estalar até à goela aquele crâneo liso.
Acorda, Orlando-Emílio, com a estranheza de ser sempre em outro tempo e lugar."

Maria Velho da Costa - Irene ou o Contrato Social, 2000 (a oito páginas da folha cativa)


Acabado de ver, com uma série de crimes noutras...