08 outubro 2008

Educ’A(r)te_Ap(r)en’Dice I

A Regra de Bruner

“Na altura do Sputnik, houve um grande exame público à adequação do nosso sistema de ensino relativamente à tarefa que se nos deparava. De facto, muitas das reformas do novo currículo tinham começado antes – motivadas por uma percepção do fosso assustador entre o conhecimento especializado da nossa tecnologia e o conhecimento público. Creio que nunca se viverá um período de tão descuidada ou ritualista disposição para com o ensino público – mas, na verdade, o ensino público como conceito operatório ainda nem tem um século de vida!
Pode bem dar-se o caso de estarmos a entrar num período de maturidade tecnológica, em que a educação exigirá uma redefinição constante, e de esse período vindouro implicar um ritmo de mudança tão rápido na tecnologia específica que as aptidões restritas se tornarão obsoletas pouco tempo depois da sua aquisição. Efectivamente, talvez uma das propriedades definidoras de uma tecnologia muito amadurecida seja a existência de uma animada probabilidade de mudança tecnológica profunda no espaço de uma única geração – tal como a nossa assistiu a várias dessas importantes mudanças.
Juntamente com uns jovens alunos com quem estive a trabalhar no Verão de 1964, num currículo de estudos sociais, entretive-me a reformular a Regra de Bruner – a relação entre as mudanças decisivas e a ordem de magnitude em anos decorridos. Utilizei-a como extensão da lei quadrática para o ângulo retiniano – o tamanho da imagem retiniana é o inverso do quadrado da distância entre o objecto e o olho. Portanto, quanto mais longínquo um período de tempo, maior a sua duração para ser apreendido! Assim:

5 x 10 9 5 000 000 000 Nascimento da Terra
5 x 10 8 500 000 000 Vertebrados
5 x 10 7 50 000 000 Mamíferos
5 x 10 6 5 000 000 Primatas
5 x 10 5 500 000 Homem Actual
5 x 10 4 50 000 Grandes Migrações Glaciais
5 x 10 3 5 000 História Documentada
5 x 10 2 500 Imprensa
5 x 10 1 50 Rádio / Ensino de Massas
5 x 10 0 5 Inteligência Artificial



O que aprendi com os meus alunos foi a conclusão de que as coisas estavam a acontecer em catadupas. A vida começou provavelmente à volta de 2,5 x 109, de modo que metade da história da Terra decorreu sem vida. Cerca de 99,999% da vida da Terra não teve a presença humana e, daí para a frente, o registo é impressionante e assustador. De facto, poderia parecer que a principal característica das ferramentas e técnicas é gerarem outras ainda mais avançadas, a uma velocidade sempre crescente. E à medida que a tecnologia assim amadurece, a educação adquire, pela sua própria natureza, um papel cada vez maior, ao fornecer as aptidões necessárias para gerir e controlar o empreendimento em expansão.
A primeira resposta dos sistemas educativos, sob uma tal aceleração, é produzir técnicos, engenheiros e cientistas de acordo com as necessidades, mas é duvidoso que essa prioridade produza o que é preciso para gerir o empreendimento. É que nenhuma ciência ou tecnologia específica fornece uma metalinguagem quanto ao que pensar acerca de uma sociedade, da sua ciência e das mudanças constantes que estas sofrem com a inovação. Poderia um engenheiro mecânico ter previsto a morte da América das pequenas cidades com o advento do automóvel? Estava tão absorvido pela tarefa de fazer automóveis cada vez melhores que nunca lhe ocorreria considerar a cidade, a vereda, o lazer ou a lealdade local. De certa forma, quando se trata de gerir a mudança, são necessárias as pessoas com a percepção da continuidade e da respectiva oportunidade. Em breve voltaremos a este assunto.”

Para uma Teoria da Educação – Jerome Bruner 1966 (pela Relógio d’Água em Agosto de 1999)
A propósito da vertigem de Maurice e dos imperadores (Pinguim & TongZhi).

1 comentário:

Tongzhi disse...

Bruner é um senhor da educação, embora alguns o considerem um "visionário".

PS. obrigado pela nota de rodapé :P