26 abril 2010

Madrugada

Dos que morreram sem saber porquê
Dos que teimaram em silêncio e frio
Da força nascida no medo
E a raiva à solta manhã cedo
Fazem-se as margens do meu rio.

Das cicatrizes do meu chão antigo
E da memória do meu sangue em fogo
Da escuridão a abrir em cor
Do braço dado e a arma_flor
Fazem-se as margens do meu povo

Canta-se a gente que a si mesma se descobre
E acorda vozes_arraiais
Canta-se a terra que a si mesma se devolve
Que o canto assim nunca é demais

Em cada veia o sangue espera a vez
Em cada fala se persegue o dia
E assim se aprendem as marés
Assim se cresce e ganha pé
Rompe a canção que não havia

Acordem luzes nos umbrais que a tarde cega
Acordem vozes e arraiais
Cantem despertos na manhã que a noite entrega
Que o canto assim nunca é demais

Cantem marés por essas praias de sargaços
Acordem vozes_arraiais
Corram descalços rente ao cais, abram abraços
Que o canto assim nunca é demais
O canto assim nunca é demais

Letra e música: José Niza / José Luís Tinoco
Maestro: Pedro Osório | Intérprete: Duarte Mendes

Ao Amor, pela madrugada de hoje! (porque não precisa de mais nada)

25 abril 2010

Neigh_Bour Wood's

Da proximidade de todas as gentes, umas sobre as outras, perpendiculando os trilhos... dado o acumular dos registos, não se conseguem finalizar os processos sem a autonomia desejada (mas não dada), a sobrecarga tecnológica nin_cessária, o desencontro das metodologias interiorizadas, o desrespeito das e pelas chefias, a emergência de um projecto globalizante para finalizar esta estadia. E assim, com pouco dormir e muito ecrã a rolar nos olhos, cumpre-se a promessa, passa-se o recibo, a_percebe-se o columbano, traz-se um ramo de abeto podado e pedido nas vivendas das olaias, afixam-se os cursos da casa/mãe, a senhora do andar de baixo convida-me a tomar café e entro na cadeia de favores com o senhor da oficina , pagando-lhe o dele, divulgando a disponibilidade pela vizinhança nesta babel.
E acelera-se a partida, com loiça lavada, conduz-se estremunhado com os óculos escuros  que velam a incandescência do minho até cruzar a neblina que se levanta do rio com o novo dia. A beira pelo litoral é longa - delta do vouga, mondego, pranto e lis ondulantes por veredas de verdes pinhos. Deixo o veículo à porta de chegada, sob bom abrigo e desço pela boca do metro que me devolve ao parque, aos livros vazios, na busca pública da colecção histórica até à terra da utopia (já em casa). Atravesso a república pelos céus cinzentos que se completam num sábado solitário: descafeinado, montras de flores, paragem no sinal vermelho da miguel bombarda (the entrance of campo pequeno? Right there!) e atinjo o ponto de saída. Metade de metade da carruagem é ocupada por uma grande família romi e os restantes passageiros torcem os narizes e as consciências (mas não muito): a naturalidade dos sorrisos, a cumplicidade das línguas, a nossa animalidade perdida, ali, inocente pela solidariedade do clã. A senhora de trás interpela o rapaz sobre a realidade das nações e gerações que hoje se cruzam (grand-child skate boarder, first time here, marriage and afection, dictature and democracy, live of world internacional founds, voluntarism, information, connecting and meeting people) - crítica, lúcida, generosa, justa.
Última estação até ao quiosque em frente à nortenha e desgaste sentido em acumulado de tanto jogo de vidas. É a família que cresce sofrida, depois de diminuição abrupta, que descansa por uma noite para se recompor. De volta, percorre a superfície calma da planície entre explosões roxas, brancas e amarelas, vendo os corais rochosos no alto dos outeiros, salientes no mar verde de trigo fresco. E o barco atrasa a partida pelo feriado revolucionário e aproveita para visitar o lar da outra margem. Finalmente sai da aldeia galega por entre os istmos do tejo, dentro do chiado. Ao longe, a cidade na linha de água... piramidando a construção desta sociedade nova, a caminho dos céus.

22 abril 2010

Earth_Tears

Chove. Eu, se fosse este planeta, chovia até mais não. Apesar de aqui não parar mais do que por uma ou duas semanas, desde outubro, continuava. Afinal, tudo é água! Tentar definir as coisas resulta impossível... talvez me precipite ou seja apenas mais um@ refugiad@. Apesar do grande hino ser este, fica aqui uma amostra mais animada desta k'rida.


Afinal foi manhã de inverno e tarde de verão!...mas já não estamos em Março.
Amanhã vou comprar roupa!

17 abril 2010

Flash_Delirium

Mild apprehension
Blank dreams of the coming fun
Distort the odds of a turnaround
Gut screams out next to none

So turn it on, tune it in

And stay inert

You say “I’ve got the backbone”

the back way to escape the gun
Climbing a tree with a missing limb
And not saving anyone

And now it hurts to stay at home

and see flash the mirror ball’s throwing mold
you can’t get a grip if there’s nothing to hold
see the flash catch a white lily laugh and wilt
but if you must smash a glass first fill it to the hilt

Plants, as far as i know are still,

still bending toward the light
and if we dance
until the heart explodes
it’ll make this place ignite
and even if this hall collapses
I can stand by my pillar of hope it’s just
a case of Flash delirium

Here’s a growing culture

Deep inside a corpse
Ages stuck together
Takin it to the source
Timeless desperation
Pictures on a screen scream
“Hey people, what does it mean?”

Comfort keeps us nice

So quick to donate everything
die wolken drifting blinding smiles circling (einkreisen)
and time’s tingling spines
attaching hands to floor
the rosy-tinted flash

The hot dog’s getting cold

and you’ll never be as good as the Rolling Stones
watch the birds in the airport gathering dirt
crowd the clean magazine chick lifting up her skirt

(why close one eye and try to

pledge allegiance to the sun
when plastic ghosts start terrorizing everyone
geometric troops aligning
carried up to the burial mounds
my earthbound heart is heavy
your heartbeat keeps things light
with the violence forever threatening the night
and even if this hall collapses
I can stand by my pillar of hope and trust)
lines when I close my eyes and just
aim blindly at the sun
and hear love
when the ghosts start singing terrorizing everyone
geometric troops aligning
carried up to the burial mounds with gold
it’s a heavy load but your
you rhythm makes it light and explode
like a violent star keeps threatening the night
and even if this hall collapses
I can stand by my pillar of hope and trust
that our heads won’t bust

66 55 red battleships

40 earthlike planets
3 holes 2 tits
1 fork in its side
zero tears in their eyes

sue the spiders

sink the W :o elsh
stab your facebook
sell sell sell
undercooked
overdone
mass adulation not so funny
poisoned honey
pseudo science
silly money
you’re my honey...

From the last album from MGMT - Congratulations

14 abril 2010

Post_Punk



Para lembrar uma fase de transição desta banda, que há quarenta anos escreveu esta cançãozinha, marcando o nascimento desta forma dita underground para a história da música, aqui caracterizada por estas senhoras (no primeiro link, a ana da silva fala do seu país de origem) e agora popularizada por este senhor (no seu possível disfarce). La, la, la, la, lola...

13 abril 2010

Church_Hate

Vemos hoje o quanto os guardiões do templo temem qualquer mudança na sua estrutura de poder ou ameaça ao seu estatuto por famas alheias. Para isso adaptam o seu discurso e fazem as comparações necessárias para se manterem eternos e inabaláveis nos seus santos tronos. Daqui a um mês vou recebe-los à porta dos seus milagres declarados, devolvendo-lhes o seu ódio com esta canção:



Quase no octagésimo terceiro aniversário do pai, se fosse vivo!

10 abril 2010

eFe_Mar(r)ied

Começam as festas no alto da colina de são gregório que, como diz no cartão do programa, é o advogado dos corações - o meu defende-me nas horas excitáveis: o libelinha, um ano depois, em noites do antigamente (macieiras nas arcadas do viana com professores de famalicão, shots de vodka e finos no berbere com bracarenses diversos, queda na dança e vómito pungente no insólito), almoço na esplanada do brac e café no colinatrum na ressaca diurna com a vizinha escolar; já com a casa fechada, ponho-me a mexer para chegar à olisipo querida, entrega da time out do porto, jantar em casa num mundo de sabores e aromas que aqui chegaram às costas da catedral - oferta da flor de noivado pelos onze meses e histórias de fornos caídos pelos terramotos, debaixo do arcaz. Hoje o dia será feito das novidades de amigos vindos das capitais anglo-germânicas em aniversário, jardins de monserrate ao calor da tarde, paragem em mac_tamá para refrescar e jantar para despedidas dolorosas e memórias preciosas - nesta pascoela celebremos ainda a salvação das espécies que azahar por aqui pro_criou: a revelação dos segredos apenas para quem pode intuí-los...

08 abril 2010

Divi_Sive

Descoberto aqui, para animar as batalhas que se avizinham e, quem sabe, uma lua-de-mel neste destino - argumentos (espera e estadia) esfusiantes para gladiar as mentes que se atravessarão até ao dia da liberdade_Amor_direitos civis!


1. Forming or expressing division or distribution.
2. Creating dissension or discord.

06 abril 2010

Sus_Pense

Depois de um mergulho no cabedelo (o primeiro do ano!), no trigésimo nono aniversário da morte do senhor de baixo e a três meses dos meus trinta e dois de vida, esperamos que o voo legislativo venha garantido (nos artigos 1º, 2º, 4º e 5º do decreto de Lei nº9/XI, já que o 3º não foi enviado para o tribunal constitucional pelo nosso representante máximo - quais famílias!?) amanhã à tarde, e que não o revogue! Enquanto as palavras se medem, aguardemos...

Previamente gratos ao pássaro de fogo e ao folclore russo...


"Uma manhã, perto do meio-dia, viu os banhistas que suspendiam as suas actividades e contemplavam, todos ao mesmo tempo, como era usual, o horizonte. Não acontecia nada. Mas então, pela primeira vez, os banhistas viravam-se e começavam a abandonar a praia. Alguns deslizavam por uma estrada de terra que havia entre dois morros, outros caminhavam em campo aberto, agarrando-se às matas e às pedras. Uns quantos perdiam-se em direcção ao desfiladeiro e Pelletier não os via mas sabia que iniciavam uma lenta escalada. Sobre a praia, só ficava um vulto, uma mancha escura que sobressaía de uma fossa amarela. Durante uns instantes Pelletier ponderava a vantagem de descer até à praia e enterrar com todas as precauções que o caso exigia, o vulto no fundo do buraco. Mas bastava-lhe imaginar o longo caminho que tinha de percorrer até chegar à praia para ficar a suar, e cada vez suava mais, como se uma vez abertas as válvulas, não fosse possível fechá-las.
E então observava uma tremura no mar, como se a água também suasse, isto é, como se a água se pusesse a ferver. Uma fervura que mal se notava e que se espalhava em ondas, até se montar nas vagas que iam morrer à praia. E então Pelletier sentia que estava a ficar enjoado e um zumbido de abelhas chegava do exterior. E quando o zumbido de abelhas acabava, instalava-se um silêncio ainda pior na casa e nas áreas circundantes. Pelletier gritava o nome de Norton e chamava-a, mas ninguém acudia ao seu chamamento, como se o silêncio tivesse engolido o seu pedido de auxílio. Então Pelletier punha-se a chorar e via que do fundo do mar metalizado, emergia o que restava de uma estátua. Um pedaço depedra informe, gigantesco, desgastado pelo tempo e pela água, mas onde ainda se podia ver, com total clareza, uma mão, o pulso, parte do antebraço. Essa estátua saía do mar, elevava-se sobre a praia, e era horrorosa e ao mesmo tempo muito bela."

Roberto Bolaño - 2666 (Pag. 101/2)
 Edições Quetzal, Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra.

05 abril 2010

Love_Fools

Pel@ que me mostraram, às vitórias vermelhas dos seus corações!

Laus_Perene

E rebentam morteiros anunciando o cessar dos préstitos e (toda a noite) a ressurreição, glorificando a chegada e ida de gentes sem fim. Foram ininterruptos os fogos vivos e as variações de celsitude: ao extremo Norte do país e subir o rio ali tão perto, para celebrar o amor na sua ausência física, com os casais de visita.

Depois da última procissão para o enterro do Senhor avistado ali na entrada da sé, depois do bacalhau farto (petinga com arroz de feijão, javali suculento e alheira) e ainda regado no subura com amêndoa e macieira, ouvimos o silêncio do arrastar dos estandartes enquanto um reencontro desenhado pelo destino é feito de forma breve e intemporal; traçar o novo caminho em tríade santa com aquecimento a gás sem encaixe possível (para já), limão e gin tónico: baptismo no lima, passeio pelas ínsuas do vez, de são paio à toca da floresta e subir os montes dourados pela flor do tojo até à entrada na serra que escorre no seu degelo infinito, visitamos os espigueiros cruzados pelo isolamento (não me importaria de morrer ali!) e percorremos a estrada sem fim que nos leva às bouças entremeadas pelas veredas graníticas, bois de repasto e cavalos selvagens, onde paramos para um raio de sol e subimos à peneda; enquanto o casal que veio do frio espera na base, exalto a cascata gigante que cai sobre o santuário, debaixo do aguaceiro intenso e continuamos a ascensão da 202 - eis que surge o milagre da neve, que assusta os viajantes pela densa brancura que começa a cobrir a paisagem; mas não tememos e, de melgaço, descemos o vale do alvar(m)inho por monção e valença.

A páscoa desperta no caminho para a invicta entre telefonemas aos familiares e almoço de cabrito e arroz no forno com as princesas do Sul - actualizam projectos de servir e (gémea) voltar, depois de destruir nomes arrogantes; antecedido pelas memórias familiares da alma e sua tia senhorial que viviam da terra, trabalhada de sol a sol, com cinco refeições diárias e subserviência ritual, cronológica, maternal; durante a refeição, histórias de casas habitadas para sempre e após compra do ticket de admissão no antigo mosteiro, seguimos pelas vias fartas de trânsito, suspensos no tabuleiro inferior, contemplando a estreiteza e emersão da cidade pétrea para descobrirmos os caraçóis de asfalto debaixo da via rápida até ao íngreme couto da antiga broa, descrita na literatura, e chegarmos ao rio maior por uma melancólica reentrância para café e continuação da estrada perdida para a barragem de crestuma_lever (love calls); o regresso é feito sob os precipícios verdejantes até à foz, por debaixo de todas as pontes, bongo e rodela de abacaxi fresco para posfácio da estação.


Pelos dezasseis anos da morte de cobain e pelo primeiro do Catatau, neste dia.

02 abril 2010

Ecce_Homo

A partir de um folheto entregue nos cortejos, descubro a essência humana: no dia anterior atravessei a cidade para buscar os primeiros óculos de sol graduados que tenho; salto para as montras com plantas decorativas de plástico e entro noutra loja, percorrendo novos objectos (o letal consumismo avança...) – uma jarra verde, dois castiçais altos, feitos à mão e velas, tudo com desconto – e ainda dois ovos de páscoa com felizes efeitos para as pessoas aurícula_ventrículares sempre ao meu lado que, após reuniões discutíveis em Barcelos e Braga digitais, impulsionam a minha veia existencialista; pão-de-ló e chá verde com jasmim para corte de cabelo, boleia pós-atendimento fortuito para buscar carro aspirado e limpo, amêndoas da auxiliar para pagar promessa informática, sessão breve, proveitosa e pródiga das revoluções de abril; imposto de selo automóvel pago enquanto as epístolas antigas apresentam a semana santa, circundando o mcdonalds da avenida central, perseguidas pelo jumento albardado de santa em fuga e das altas autoridades desta sociedade presa entre tradições renovadas – falamos do início dos percursos profissionais e adormeço no sofá; desperto para ir ao mercado enfeitar a casa com frésias, líros e túlipas em tons purpúreos da quadra, por quanto avisto o sol e os montes ao fundo, entre as nuvens; volto ao posto para arrumar tarefas e consolar o ancião que me explica o seu futuro com as origens ancestrais dos costumes, descubro o livro epitáfico e almoçamos tarte de bacalhau entre cadela e gata que devolvem a auréola ao dia: aos raios que se impõem, saímos para café e prenda esquecida no museu e água tónica com panachet à foz do cávado no lounge de esposende (cujo brasão me traz aqui pela padroeira nos céus), aproveitando para exercitar todos os músculos após a piscina, a ver as marismas... regresso imediato e descarga na descida da boavista, entrada no viana para a recepção do(s) homem(s) no seu delírio futebolístico, poesia di_vino na coluna, o tribunal do trabalho em frente, ida a casa para guarda-chuvas e o auge do fervor religioso (para alguns): as gentes que não respeitam e não param os comentários estúpidos perante os figurantes e os estandartes, na tentativa de escárnio perante tudo_nós_eu, nesta cerca de muros, de cabeças, de pedras (até o vizinho subiu cá acima para reclamar o arrastar das correntes!). Barrocos são os tempos...


Um filme de Jerry Tartaglia de 1989 - whether the taboo is against gay sex or against seeing gay sex…