05 junho 2010

Streu_Nen

Pela 306 ondulo entre muros pelos novos e vastos campos de milho que se estendem até aos pinhais dos cerros e, passando por Macieira, saio numa recente rotunda; circulo por toda a vila? aldeia? e depois dos carris extintos, paro perto da velha e pequena estação; aqui encontro-me com a igreja de Rates, o mais perfeito exemplo do Românico em Portugal: os capitéis em várias e bem conservadas animalidades em relevo, cobertas nas arcadas pela verdugem húmida enquanto turistas peregrinos descansam na calma fresca sombra do interior, o quadriculado polido da renda que debrua as voltas por dentro e fora das capelas, um agnus dei que deslumbra o óculo da porta direita e pares de anjos que ladeiam o tríptíco do tímpano da entrada matriz. E uma esteira de areia com restos de pétalas ainda é visível até ao senhor da praça...
Depois perco-me pelas curvas da mata, surpreendo-me com a vista do mar por toda a costa da póvoa e desco até ao terroso; faço a estrada habitual e desta vez aproximo-me um pouco mais da Aguçadoura, pelas estufas resplandescentes e atrás do campo de golfe, com um lanche e livros. As horas passam na torreira do sol vendo a força do oceano num longínquo burburinho aquático e as gaivotas que planam sobre a linha das dunas no sentido ártico até que, sem tabaco, tenho que ir até ao povo; veêm-se jovens, deformações físicas, carroças e também varrem do asfalto restos de relva em tapete com escovas e pás; bebo um fino enquanto fico a escaldar na esplanada sentado a ver as belas plantas e a péssima arquitectura (a torre pequena e o pico da Boa Viagem são boas mostras). Volto à areia logo em frente e termino camus, dou o último mergulho para, já no caminho, decidir a próxima paragem...
Trouxe roupa lavada e gel de banho para o plano nocturno e é ao acaso que viro em Cepães, em plena rede natura atlântica. A sorte de um pedido faz com que o senhor do café à saída do passadiço viole com um alicate a ligação da água para que possa duchar-me; regresso pelo atalho em redor do cávado notando as magnólias em flor e entro na velha e bacelar cidade, estaciono no parque ao pé do hospital, ponho o barrete, pedem-me moedas e o significado (explico que sempre houve judeus em Portugal). Cirandeio pelas ruas vazias enquanto espero, pois já estava sub_escuta o artista do entretenimento deprimido com a(o) sua(eu) F(ado_B)ossa Nova. Rio pouco, aplaudo muito e saio directo contornando três pirâmides arbustivas até chegar ao prado...


Inspirado na vendeta que acaba de passar no primeiro.

1 comentário:

João Roque disse...

Através de ti e das tuas constantes deambulações continuamos a admirar o Minho.
Tu gostas mesmo do Cávado, verdade?