20 outubro 2010

Dog_Man

Quando destranco a porta do bunker blindado onde me escondo, recebe-me com o seu focinho em punho o meu outro habitante: pequeno, grisalho, com ar sábio, ansiando pelo pão na sua boca (ou ração, pouco importa) e uma festa de alegria por vê-la ali, só durante metade de um dia, na escuridão da hora a que chego. Aqueço a sopa onde flutuam lentilhas e um troço de gengibre por entre o puré de cenouras, despacho-me dos meus resíduos porque não tenho quem mos recolha (a não ser as etares de todos nós), pressiono o frasco transparente de tonalidade acastanhada a combinar, de onde sai o gel opaco e cristalino com que esfrego as mãos. Sorvo o caldo de uma vez só e deixo um pouco no fundo para que lamba com tempo, dois bocados de broa partilhados em pedaços, pego no gorro, caderno e saio. As escadas, silenciosamente, para encarar o carro emoldurado pelos três vidros da porta do prédio. Subimos, como sempre, mas desta vez a pausa é no renovado café, também wine_bar onde um melhor sistema de aquecimento nos faz sentar depois dos quebra_ventos entrecruzados. Agora espreguiça-se contra a cadeira, entre as minhas pernas enquanto espreita por debaixo da mesa. Peço-lhe que se deite quando ao moço faço outro, de café, não bica (Cumo?) Ela espera, ladra pelo prato ao lado e senta. Vejo os minutos no tiquet, escrevo, fumo e oiço a brasileirada melancólica agitada que soa. Na pausa, afago-lhe a cabeça, guardo o material e continuamos a passeata costumeira pela noitada que nasce, afastando-nos da conversação ruidosa de fundo, deambulando pelas lajes das bermas.

Enquanto leio, ouço e vejo...

2 comentários:

João Roque disse...

Agora tens um cão?????

MrTBear disse...

é uma cadela lol
Há uns tempos estive quase a ter um cá em casa. A falta de tempo levou-me à razão, mas tive pena.
Um Abraço