09 maio 2010

Labrys_Feast I



"A vida humana tem de estar, pela sua própria natureza, dedicada a alguma coisa, a um empreendimento glorioso ou humilde, a um destino ilustre ou trivial. Trata-se de uma condição estranha, mas inexorável, inscrita na nossa existência. Por um lado, viver é algo que cada qual faz por si e para si. Por outro lado, se essa vida minha, que só a mim me importa, não é entregue por mim a algo, caminhará desconjuntada, sem tensão e sem “forma”. Nestes anos temos assistido ao gigantesco espetáculo de inumeráveis vidas humanas que avançam perdidas no labirinto de si mesmas por não terem a que entregar-se. Todos os imperativos, todas as ordens ficaram em suspenso. Parece que a situação devia ser a ideal pois cada vida fica em liberdade para fazer o que lhe apetecer, para conceder férias a si mesma. Igualmente cada povo. A Europa afrouxou a sua pressão sobre o mundo. Mas o resultado foi contrário ao que era de esperar. Liberta de si mesma, cada vida fica sem si mesma, vazia, sem ter ocupação. E, como tem de encher-se com alguma coisa, “inventa” ou finge frivolamente ser ela mesma, dedica-se a falsas ocupações  que nada de íntimo, de sincero, impõe. Hoje é uma coisa; amanhã outra, oposta à primeira. Está perdida ao encontrar-se sozinha consigo. O egoísmo é labiríntico. Compreende-se. Viver é ir disparado em direcção a algo, é caminhar para uma meta. A meta não é o meu caminhar, não é a minha vida; é algo onde ponho esta, e que por isso mesmo está fora dela, mais além. Se me dedico a andar só dentro da minha vida, egoisticamente, não avanço, não vou a nenhuma parte; dou voltas e mais voltas num mesmo lugar. O labirinto é isto, um caminho que não conduz a nada, que se perde em si mesmo, de tanto não ser mais do que caminhar dentro de si."

A Rebelião das Massas 1930 - Ortega y Gasset

1 comentário:

Anónimo disse...

Jessye??!! o que fez á cicatriz? lol , está com a voz cada vez melhor, e aqui sem grande vibrato exagerado, gostei muito da tua escolha ;D