28 janeiro 2009

Shade_(Fake)Shape I

"Desempenhando a função de esconder a evidência, a opinião pública tem o mesmo papel que a tradição nas sociedades antigas: oferecer algo a que se possa aderir e ser salvo de recriminação. Mas enquanto a tradição incluía uma semântica de segredo que era passada de geração em geração, a função de encobrir a realidade que tem a opinião pública nunca foi referida. Ela própria se torna "segredo". Isto é compensado pela rápida mudança de temas e a uma abertura ao que é novo.
Pode-se clarificar esta orientação com a ajuda da metáfora do espelho. Neste caso já não temos um espelho de virtudes no qual o príncipe pode reconhecer o seu melhor ego mas a possibilidade de observar como seu próprio observador e outros são representados pela opinião pública. Em nenhum acontecimento nos vemos ao espelho mas apenas a expressão que compomos para o espelho. Mas não é tudo. Para além disso, nas nossas costas vemos outros que também actuam em frente ao espelho: outras pessoas, grupos, partidos políticos e versões do mesmo tema.
O que quer que vejamos é só um perfil que é determinado pela nossa própria posição e movimento. O efeito assenta completamente na intransparência do espelho., isto é, numa separação total de tudo o que realmente ocorre na mente das pessoas reais ao tempo em que se olha para o espelho. A diferenciação do complexo meio_forma da opinião pública e a dissimulação da verdadeira complexidade de uma grande quantidade de processos conscientes torna possível à política orientar-se de acordo com a opinião pública.
Por um lado, isto significa que a política só pode vislumbrar-se no espelho da opinião pública, fixada que está no contexto artificialmente escolhido das suas próprias possibilidades de movimento. Por outro lado, contudo, o espelho também reflete de volta para o observador menos e ao mesmo tempo mais que somente ele próprio. Ele também vê os seus concorrentes, intrigas e possibilidades que só são atractivas para os outros e não para ele. Assim, o espelho da opinião pública, tal como o sistema dos preços de mercado, torna possível uma observação dos observadores. Como sistema social, o sistema político, portanto, usa a opinião pública para se tornar capaz de se observar e desenvolver estruturas de expectativas correspondentes. A opinião pública não serve para estabelecer contactos externos. Serve a clausura auto-referencial do sistema político, o círculo fechado da política. Mas a clausura auto-referente é conseguida com a ajuda de uma instituição que permite ao sistema distinguir auto-referência e referência a outro, isto é, a política e a opinião pública, na realização das suas próprias operações e com ela construir uma representação dos limites das suas próprias possibilidades de acção.

[...]

Niklas Luhmann in A Improbabilidade da Comunicação. Pag. 85-87 Vega (4a Ed.) Colecção Passagens, 2006.


Apenas para dar andamento. Desabafos sobre o que faço, os que fazem, o que fazem... onde estou.

2 comentários:

João Roque disse...

Maravilhoso o poema de Charles Bukowski, que está aqui ao lado, a azul, claro.
Abraço amigo.

anjo disse...

__________________ vê, por favor, o

post do Sítio Peludo de dia 26______________.

sigo no silêncio o teu bom gosto______________

com este abraço assim__________